Potencial vacina brasileira contra covid-19 começa a ser testada em animais – 04/06/2020

Pesquisadores do Instituto de Medicina (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) começaram a testar formulações em camundongos de uma potencial vacina covid-19.

O objetivo dos estudos pré-clínicos é identificar um agente imunizante em uma formulação e concentração específica que podem provocar uma resposta rápida e sustentada no sistema imunológico do animal. Essa conquista permitirá avançar nas próximas fases da pesquisa, apoiadas pela FAPESP (Fundação Estadual de Apoio à Pesquisa em São Paulo).

“Já conseguimos desenvolver três formulações de vacina que estão sendo testadas em animais. Paralelamente, estamos projetando várias outras para identificar o melhor candidato”, disse à Agência FAPESP Gustavo Cabral, pesquisador responsável pelo projeto.

A estratégia usada para desenvolver a vacina é baseada no uso de partículas virais (VLPs).

Essas partículas têm características semelhantes às dos peptídeos e proteínas virais, como a superfície SARS-CoV-2 – chamada de pico – que o novo coronavírus usa para se ligar e infectar um receptor em células humanas – a proteína ACE2 – para que sejam facilmente reconhecidos pelas células imunológicas. . No entanto, eles não possuem material genético para o patógeno, o que os torna seguros para o desenvolvimento da vacina.

Para permitir que eles reconheçam o sistema imunológico e criem uma resposta contra o coronavírus, as VLPs são inoculadas junto com antígenos – substâncias que estimulam o sistema imunológico a produzir anticorpos. Dessa maneira, é possível combinar as características adjuvantes da VLP com a especificidade do antígeno. Além disso, as VLPs, por serem componentes biológicos naturais e seguros, são facilmente degradadas, explica Cabral.

“Com essa estratégia, é possível direcionar o sistema imunológico para reconhecer as VLPs conjugadas a antígenos como uma ameaça e ativar a resposta imune de maneira eficiente e segura”, diz o pesquisador (leia mais em: agencia.fapesp.br/32743/).

Acompanhamento

As três primeiras formulações de vacina testadas em camundongos consistem em peptídeos semelhantes aos que compõem a proteína spike SARS-CoV-2 e que induzem especificamente células B – linfócitos que estimulam a produção de anticorpos capazes de neutralizar a entrada de vírus nas células.

Além desses peptídeos, as vacinas também são formuladas com peptídeos que induzem especificamente células de defesa do tipo T – linfócitos que induzem a autodestruição (apoptose) de células infestadas por vírus, a fim de interromper a replicação do microrganismo.

Os pesquisadores também pretendem desenvolver outras formulações com proteínas inteiras semelhantes aos picos do novo coronavírus que, diferentemente dos peptídeos, que induzem especificamente as células B ou T, estimulam diferentes tipos de células de defesa.

“Tivemos que introduzir essas proteínas e esperar que elas chegassem esta semana. Mas a idéia é sintetizá-las e produzi-las em nosso laboratório, assim como já fazemos com peptídeos”, diz Cabral.

Nos ensaios iniciais, as vacinas foram injetadas em camundongos em várias concentrações. Amostras de plasma de sangue de animais serão coletadas semanalmente para avaliar a produção de anticorpos induzidos pela vacina.

Observando a evolução da resposta imune ao longo de meses, é possível determinar qual formulação de vacina e em qual concentração pode induzir imunidade animal ao longo do tempo e neutralizar o vírus.

“Esse monitoramento contínuo também nos permitirá quantas doses de vacina serão necessárias para suportar a imunidade”, explica Cabral.

A formulação da vacina com o melhor efeito em termos de indução de uma resposta imune é injetada em camundongos transgênicos, que transportam o receptor ACE2 em células humanas, às quais a proteína SARS-CoV-2 se liga na gordura. O objetivo é avaliar quanto tempo a vacina dá imunidade e se é seguro testar em humanos.

Os pesquisadores esperam que os testes pré-clínicos sejam concluídos até o final deste ano.

“Temos muito cuidado com os testes e tentamos responder ao maior número possível de perguntas, para que possamos continuar com o rigor necessário no desenvolvimento de uma vacina realmente eficaz contra a covid-19”, diz Cabral.

“Além das vacinas, também produzimos conhecimento e uma plataforma tecnológica que pode ser útil para o desenvolvimento de vacinas contra outras doenças, como as causadas pelos vírus zika e chikungunya”, ressalta o pesquisador.

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