Dificuldade em atender aos limites superiores de gastos alerta para disfunção do estado – 01.08.2020. – Mercado

Não havia escassez de recursos públicos para combater a pandemia e seus efeitos colaterais de renda. Os gastos do governo federal devem aumentar em mais de US $ 500 bilhões este ano para atender às necessidades de saúde e fornecer assistência temporária a pessoas, estados e municípios.

Em 2020, devemos acabar com um déficit fiscal de mais de 16% do PIB, sem precedentes desde a estabilização em 1994. É uma despesa tributária muito mais alta e uma renúncia que a média para outros países emergentes.

Ao mesmo tempo, o Congresso parece disposto a aprovar os custos fixos, sem qualquer indicação de qual será a fonte de financiamento, inconsistente com a regra básica das finanças públicas. É o caso, por exemplo, da expansão do BPC (taxa de pagamento contínuo) e da emenda constitucional estabelecendo um novo Fundeb.

No poder executivo, a pressão para dar bônus ao exército está aumentando, enquanto muitos estados estão ajustando os salários para várias categorias de servidores.

Vários grupos organizados criticam a regra constitucional do teto de gastos. Eles argumentam que isso prejudica programas sociais, como saúde e educação, o combate à pandemia e à recuperação econômica.

Eles não estão errados por várias razões.

Primeiro, a regra do teto possui uma válvula de segurança que permite custos temporários adicionais para lidar com desastres, como foi o caso este ano. Se a resposta das políticas públicas à pandemia frustrou alguns, não houve falta de recursos.

Segundo, essa regra diz que os gastos com saúde e educação devem ser ajustados a cada ano, pelo menos pela inflação.

Terceiro, os recursos do Fundeb são excluídos das regras do teto. Depois que a expansão do Fundo for aprovada, os gastos aumentarão em cerca de US $ 200 bilhões na próxima década, e quase todos passarão a um ajuste linear dos salários dos professores, incluindo aposentados e pensionistas.

Assim, não é verdade dizer que limitar o teto limita o confronto com problemas temporários decorrentes de uma pandemia ou que limita os gastos em áreas como educação e saúde.
É melhor esclarecermos os reais motivos da diferença.

A regra do limite limita o crescimento dos gastos totais do governo à inflação anual, exceto durante um desastre. Muitos, no entanto, estão pressionando por um aumento nos gastos públicos acima da inflação após o fim da pandemia, seja para expandir os gastos atuais, como compensação do serviço público, ou para tentar acelerar o crescimento econômico por meio de investimentos em infraestrutura.

Uma nota de cuidado está em ordem. Inverter as regras do teto ou adotar mecanismos contábeis criativos para contornar isso pode ter o efeito oposto. Estamos em sério risco de aumento das taxas de juros do mercado, o que prejudica a continuação da produção e do emprego.

As despesas correntes compulsórias do governo têm sido significativamente maiores que a inflação desde 1991. Como sistematizado em (Lisboa, 2020)no entanto, o forte crescimento do consumo não foi acompanhado por uma melhoria compatível nos indicadores sociais, especialmente o declínio nos indicadores de pobreza e aprendizagem na escola secundária em comparação com outros países emergentes. Embora cada vez mais caro, o estado brasileiro não é eficaz para atender às necessidades da população.

Vale lembrar que, no início desta década, o governo expandiu ainda mais seus gastos para possibilitar o investimento público e subsidiar o setor privado. O resultado, alguns anos depois, no entanto, não foi um maior crescimento econômico, mas uma das maiores recessões de nossa história.

Entre janeiro de 2012 e dezembro de 2014, os gastos públicos aumentaram 20% acima da inflação e as unidades governamentais estagnaram em parte devido a isenções de impostos e benefícios. No entanto, a degradação das contas públicas é mascarada pela aplicação de vários critérios contábeis “criativos”.

Nesse estágio, os juros da dívida pública permaneceram relativamente estáveis, como mostra o Gráfico 1, apesar da degradação das contas do governo, quando os dados verdadeiros daquele período foram considerados, a contabilidade “criativa” foi corrigida. Apesar desse estímulo fiscal, o crescimento econômico desacelerou em 2012, recuperou-se ligeiramente em 2013 e caiu para quase zero em 2014, quando uma grave recessão começou.

A deterioração das contas públicas e o alto nível de endividamento do país criam incerteza para o setor privado. Como o estado pagará as contas? Haverá um aumento da inflação ou da carga tributária? Esses efeitos de aumentos descontrolados nos gastos públicos se traduzem em maiores taxas de juros de mercado, baixo investimento e menor crescimento de receita e emprego.

No primeiro semestre de 2015, o fracasso em impulsionar a economia através da expansão dos gastos públicos e do forte crescimento da dívida pública, que aumentou 20 pontos do PIB em apenas três anos, começou a ficar claro.

Dentro de alguns meses, a taxa de juros real média sobre títulos de dívida dobrou, de 4,5% a.a. em dezembro de 2014 a 8,0% p.a. em novembro de 2016. No meio do caminho, em setembro de 2015, houve uma perda do grau de investimento do país. O resultado foi um aumento no custo de capital para o setor privado, o que levou à redução do investimento e exacerbou a crise econômica. Essa fase é mostrada no segmento II do gráfico 1.

Nos países ricos com produção e deflação atrasadas, a expansão dos gastos públicos pode ajudar a economia a se recuperar. Por outro lado, em países emergentes com contas públicas desequilibradas e grandes dívidas, o aumento do gasto público está exacerbando a crise. Para quem gosta de dados, vale a pena ler o artigo de Ilzetzki, Mendoza e Végh “Qual o tamanho (pequeno?) Dos multiplicadores fiscais” na revista “Economia monetária”.

Esse risco é ainda maior no caso do Brasil, que enfrenta um problema adicional que não existe em outros países: alto crescimento nos gastos obrigatórios, que gasta quase todo o orçamento público, devido ao envelhecimento da população, regras sobre remuneração da função pública e direitos adquiridos e diversos vínculos. gastos públicos.

Os ajustes na política fiscal começaram em 2015, mas o déficit primário continuou aumentando devido à inércia dos incentivos fiscais, que, uma vez aprovados, são difíceis de revogar e custos que são na maioria obrigatórios e indexados à inflação ou ao salário mínimo.

Somente após o início do governo temporário, e especialmente após a aprovação do teto de gastos, a percepção de uma mudança na solvência da mudança do tesouro e as taxas de juros da dívida começaram a declinar, como pode ser visto no terceiro segmento do primeiro gráfico.

O risco que temos agora é repetir um experimento fracassado: aumentar o consumo, acreditando que isso impulsionará a economia. O resultado, no entanto, será um aumento nas taxas de juros, uma redução no investimento privado e a expansão da dívida pública, que pode se tornar insustentável. Em vez de um crescimento maior, colheremos a estagnação econômica.

Como na experiência de 2012-14, pode não haver mudanças significativas momentâneas no preço da dívida. Por fim, existe excesso de liquidez no mercado internacional, a atividade econômica está estagnada e a inflação é muito baixa. Mas é uma questão de tempo até que a percepção mude. A própria decisão de revogar ou contornar o limite superior de gastos é um forte candidato para acionar um alerta.

O segundo gráfico mostra a média de juros cobrados por diferentes condições nos últimos cinco dias de janeiro de 2016, quando toda a divisão fiscal do governo Dilma já era conhecida. Há um forte aumento nas taxas de juros em termos de dívida mais longos. Para emprestar por um período mais longo, o poupador exigia um prêmio de risco de dois pontos percentuais em relação à taxa básica estabelecida pelo Banco Central.

Esse gráfico também mostra os últimos cinco dias de dezembro do mesmo ano, quando o limite superior de gastos já foi aprovado e o governo federal é considerado comprometido com o controle de contas públicas. O nível médio das taxas de juros não apenas caiu, mas a inclinação da curva foi revertida, com taxas de juros de longo prazo ainda inferiores às taxas de juros de curto prazo, refletindo menos desconfiança no futuro.

O crescimento contínuo depende do investimento produtivo, que depende do custo de capital e da segurança das regras do jogo, especialmente da previsibilidade das regras tributárias e do controle da inflação nos próximos anos. A expansão dos gastos e a incompatibilidade fiscal se opõem às condições para o contínuo investimento e emprego privados.

É importante observar que aqui não é uma política de redução de gastos, o que não é possível no Brasil devido às nossas regras constitucionais e jurisprudência. O que não deve ser feito é acelerar o custo que já possui seu impulso inercial. O terceiro gráfico mostra que, antes da pandemia, o Tesouro conseguiu interromper o crescimento do consumo (desde 2015) e recuperar as receitas (desde o início de 2018). Como resultado, o déficit primário estava em declínio, embora lentamente.

Com a pandemia, houve uma queda acentuada nas receitas e um grande aumento nas despesas extraordinárias. Certamente não será sustentável manter a taxa ou o nível de crescimento alcançado em 2020. Assim que as atividades econômicas puderem ser normalizadas, precisaremos fazer um duplo esforço para melhorar a qualidade dos programas públicos, reduzir a propagação de custos e avançar com reformas que aumentem o potencial de crescimento da economia.

Criar truques tributários para aumentar os gastos sem aparecer nas estatísticas ou abandonar a regra tributária será uma repetição do mesmo erro que nos levou à crise iniciada em 2014, com a diferença de que as contas públicas são muito mais frágeis.

As simulações de evolução da dívida sugerem que, na ausência de um teto de gastos e com uma expansão moderada dos gastos governamentais constantes, existe o risco de crescimento descontrolado da dívida como parte do PIB, mesmo com premissas relativamente otimistas sobre crescimento econômico e taxas de juros nos próximos anos. (ver Lisboa, 2020)2

A dificuldade em cumprir as regras do limite superior revela a disfuncionalidade de um estado cujas despesas obrigatórias aumentam constantemente, mas têm pouco benefício para a população. O aumento do custo dos salários e pensões dos funcionários públicos, especialmente em países e municípios, resulta na necessidade de assistência continuada da União. Existem muitas decisões oportunistas que permitem que o salário seja recebido bem acima do salário de um juiz do STF, sem respeitar o limite de remuneração estabelecido pela constituição.

As partes interessadas e o populismo comum defendem atalhos para sancionar a distribuição de subsídios, em vez de enfrentar leis que permitem que um estado gaste muito, mas gaste muito. Em um país que cresceu pouco em algumas décadas, as autoridades públicas continuam cobrando cada vez mais salários e benefícios aos funcionários públicos muito acima do que o resto da sociedade, que paga a conta, tem direito.

Representantes do setor privado que são privilegiados em serviços oficiais rejeitam qualquer proposta para reduzir seus subsídios ou regras que permitam impostos mais baixos. Repensar as regras do teto tornou-se um novo mantra de velhos interesses conjugais que corrompem o estado brasileiro.
Fique alerta. Andamos sobre gelo fino e o teto para o consumo era nossa única proteção.


Referências bibliográficas
1Ilzetzki, E., Mendoza, G., Végh, C. Qual o tamanho (pequeno?) Os multiplicadores fiscais? , Journal of Monetary Economics, v. 60, nº 2, março de 2013, p. 239-254.
2Lisboa, M. et al. (2020) Plano econômico pós-pandemia: parte um – qualidade dos gastos públicos e tributação.

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