Não há como voltar atrás: o Brasil deve tomar o anti-racismo como prioridade

Catharina Odara Zacharias Rocha, 4 de março de 16 de consciência negra na Copa do Mundo – Foto: Danilo Verpa / Folhapress

O racismo não pode mais ser negado como o mecanismo da engrenagem que impulsiona a desigualdade e a violência. Toda vida dos dias sombrios se perde nesses dois contextos. Ficar em silêncio é conivente. Passou o tempo em que a luta contra o racismo é o principal problema enfrentado pelos funcionários do governo, pela sociedade, cada um deles, brancos e negros, ricos ou pobres. Todos somos responsáveis ​​por manter o racismo, suas conseqüências e por tentar impedi-lo.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 30 anos, concluído na segunda-feira 13 de abril, mostra como o preconceito racial é persistente (em séculos), estrutural (expresso por ações das instituições e do estado) e resiliente (ajustando-se a momentos históricos para se perpetuar) . Apesar da melhoria dos direitos das crianças desde a promulgação do TCE, uma das principais características da vulnerabilidade entre crianças e adolescentes é o fato de serem negras. Isso mostra que vivemos um ciclo interminável que expõe crianças negras, jovens, mulheres, homens e idosos à rotina diária de evitar a morte. Realidade inaceitável.

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Diante de todos os fatos, não é mais possível ocultar ou evitar o contato com o racismo. Ele aparece na televisão, nas mídias sociais, nas páginas de jornais, nas cenas em que os negros sufocado por botas legais. tiro em casaou estatísticas mostrando vulnerabilidades de saúde (mortes naturais aumentam três vezes mais entre negros do que entre brancos em uma pandemia), expulsão da escolaou perigo no trabalho.

Por esse motivo, neste momento no contexto político e histórico do Brasil e do mundo, é imperativo ocupar essa linha de frente. É importante ser anti-racista. Atuar diariamente, em pequenas e grandes lojas, buscando, criando e implementando políticas públicas para aliviar a desigualdade racial. A Coalizão Negra pelos Direitos uniu-se à advocacia contra a polícia militar de São Paulo e o governador João Dóri exigindo ação no caso de um comerciante negro de Parelheiros, covardemente atacado pela polícia militar.

“As cenas de um policial com uma bota no pescoço de uma negra em Parelheiros / SP são performativas! Filósofo Sueli Carneiro, o grande líder do movimento negro.

devoção de cada fica maior e maior e mais óbvio. Quem não tomar essa posição também estará nu e terá de suportar as consequências e a vergonha de ser racista. Não basta dizer que expulsou um policial violento, nem confirmar que eles devem seguir o protocolo, assim como o governador João Doria (PSDB) de São Paulo. É necessário reformar a polícia, mudar a lógica da abordagem, colocar a cultura policial e o racismo como o tema central a ser observado, estudado e enfrentado.

Sim, houve progresso nos direitos das crianças e jovens desde a adoção do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990. Teria sido pior se não fosse pelo ECA. Entre os mais importantes estão o reconhecimento de crianças e adolescentes como sujeitos de direito, a prioridade absoluta que deve ser dada a esse grupo populacional em todos os casos, o declínio na mortalidade infantil (cerca de 870 mil vidas salvas nos últimos anos) em 30 anos, principalmente devido ao fortalecimento do SUS, pré-natal cuidados e vacinas), uma redução nas taxas de abandono escolar (1990% foi de 20% e hoje é inferior a 5%; a desaprovação é maior entre os negros) e trabalho infantil (reduzido pela metade, mas ainda trabalhando para cerca de 5 milhões de crianças e adolescentes). adolescentes, em 2016 64,1% eram negros, não é coincidência), segundo dados publicados pela Unicef.

Taxa de homicídios no Brasil, uma das mais altas o mais alto do mundo é 28 por 100.000 habitantes. Isso chega a 200 por 100.000 habitantes, se fizermos o corte para homens negros. Os negros são 75% dos mortos pela polícia, assim como os policiais negros que mais morrem. As mulheres negras são 61% vítimas de feminicídio (dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública). A violência continua sendo imposta a essa população.

As vulnerabilidades continuam a cair mais sobre a população negra. Não é por acaso. Não é por acaso que um policial de São Paulo imobilizou e bateu em uma mulher negra em São Paulo quatro vezes. Não foi por acaso que o mensageiro das motos pretas foi atacado e também sufocado quando “cometeu um erro” pelo suspeito. Não é por acaso que ações policiais mataram meninos negros como João Pedro, 14, João Vitor, 18, Ágatha, 8. Não é por acaso que Miguel, o quinto, foi deixado no elevador pelo chefe de sua mãe, jogado em perigo de morte. Não é por acaso que a mortalidade de negros em uma pandemia é maior que a dos brancos. Não é por acaso que as mulheres negras sempre cuidam de seus filhos, companheiros, netos, amigos e sobrinhos, na mais profunda solidão de um ser humano.

“Até que este país supere o racismo, não teremos uma sociedade justa”, disse Mônica Oliveira, coordenadora da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, no lançamento de um relatório de um ano sobre a rede de observatórios de segurança. “Racismo, o motor da violência”, nesta terça-feira (14). “Não queremos apenas resistir, queremos existir. Queremos ter o direito à vida. Queremos ter o direito de planejar o futuro sem temer constantemente a realidade deste país”.

O silêncio é cúmplice. A violência racial “ocorre onde é silencioso. (…) O racismo é o motor do pleno funcionamento das instituições herdadas de um país dono de escravos, da elite colonial, ao mesmo tempo em que é colonizado, e essas instituições agem reconhecendo, ainda que indiretamente, deficiências e privilégios com base na raça ”, destacam Dudu Ribeiro e Luciene Santana, do Observatório de Segurança da Bahia. Isso não pode mais ser deixado de fora.

Perder poder é racismo

Apesar das evidências e das cenas cotidianas, autoridades e governos estão cegando os desafios colocados na luta contra o racismo. Durante os 30 anos do seminário da ECA, promovido pelo Conselho Nacional de Justiça em parceria com outras organizações, os ministros do governo Bolsonaro não ouviram particularmente preocupações sobre a proteção de crianças e adolescentes negros.

É como se Damares Alves (mulher, família e direitos humanos), André Mendonça (justiça) e Onyx Lorenzoni (cidadania) vivessem em uma realidade paralela. Eles não estudaram os números, não leram os jornais? Portanto, não comprometa. Os ministros deram boas-vindas ao estatuto, abriram o evento, mas não tocaram na palavra racismo. Como desenhar políticas públicas?

“É um grande desafio pensar sobre o que conseguimos implementar, identificar boas práticas e, ao mesmo tempo, lançar novos desafios para os próximos anos”, afirmou Mendonça, sem antecipar esses caminhos nem garantir compromisso. “O governo brasileiro está intensificando seus cuidados com as crianças e é dever do governo Bolsonaro. Ajudar os vulneráveis ​​e proporcionar-lhes oportunidades”, disse Lorenzoni, sem entender de quem estava falando, mas citando a Bíblia.

Por fim, Damares citou sua experiência de violência sexual como exemplo. “A majestade deste painel mostra até onde chegamos. Eu gostaria que estivéssemos em um painel como esse há 50 anos. Eu certamente estaria protegido. Além disso, meninas e mulheres negras sofrem mais violência, de todos os tipos. Damares deveria saber disso. E sugerir algo, tire vantagem dos 30 anos da ECA. Finalmente, como ela própria admitiu, a fome diminuiu, mas não como resultado de sua administração ou da administração de seu governo. Organizar um partido de princesa negra para uma garota que sofreu racismo não é uma política pública.

No seminário, algumas ações do governo bolsonar obviamente contemplaram a infância e a adolescência: por exemplo, Conanda (Conselho Nacional da Criança e do Adolescente),quantidades máximas de formulação, reflexão e controle de políticas públicas para crianças e adolescentes, interrupção de reuniões em negligência absoluta com a sociedade civil, representando os interesses de crianças e adolescentes no país e supervisionando a implementação dessas políticas. Houve também reclamações sobre redução de recursos para o sistema de garantias e proteção de crianças e adolescentes, para conselhos tutelares, para prevenção de violência sexual, para os centros de referência em assistência social (Cras) e o Centro Especial de Referência em Assistência Social (Creas). Toda essa negligência recai ainda mais cruel e predominantemente sobre meninos e meninas negros.

“Legalmente, o TCE avançou, como prioridade absoluta e proteção total de crianças e adolescentes. Mas ainda é necessário investir em políticas que possam prevenir a violência, como casos de assistência social para fortalecer os laços familiares, para garantir acesso a educação de qualidade, alimentação adequada, presente professor, brincar, tempo livre em uma comunidade não violenta e proteger a criança. É de responsabilidade da comunidade e do estado “, diz Deila Martins, coordenadora executiva da Assessoria Jurídica para Organizações Populares (Gajop), membro do Observatório de Segurança de Pernambuco.

Aqueles que crescem em contato diário com a violência perdem a referência ao amor e marcam suas vidas para sempre. Portanto, a lei não é suficiente. É necessária vontade política, comprometimento ético, conhecimento técnico, conscientização e sensibilidade nas ações de todos.

Todo papel é. Aproveitando o fato de que este é um ano eleitoral, os partidos políticos também devem levantar a questão racial como uma questão fundamental em todo o processo. “Veja por si mesmo. O racismo funciona agindo e falhando. É necessário que todos no processo assumam suas tarefas. Não é culpa do jogo, estamos falando de responsabilidade”, diz Mônica Oliveira. Precisamos parar de perder nossos jovens negros, nossos filhos. Devemos ajudar a curar a profunda ferida do racismo.

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