“Quando os tiroteios pararam, o barulho das bombas chegou”, disse um morador de Botucatu sobre a noite do terror – 30 de julho de 2020. – Vida cotidiana

A vida em Botucato, cidade de 140.000 habitantes, a 238 km de SP, era pacífica e sem grandes perturbações. Com um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,8 – em uma escala de 0 a 1, o município está entre os melhores do país.

Como outras cidades brasileiras com mais de 100.000 habitantes, a violência decorrente do crime organizado progrediu nos últimos anos. Por exemplo, em 2019, a taxa de homicídios no município estava acima da média nacional.

Mas o que aconteceu na noite de quarta-feira (29) surpreenderia até os moradores dos lugares mais violentos do Brasil. Uma gangue de cerca de 30 criminosos, armados com rifles e metralhadoras, atacou a cidade, detonou bombas, tomou reféns e trocou tiros com a polícia. Um suspeito morreu e dois policiais ficaram feridos durante o confronto.

A cidade assistiu espantada por cerca de quatro horas enquanto os tiros continuavam como se fosse uma zona de guerra. Foi assim que a advogada sistêmica e conciliadora Ana Teresa Durante se sentiu.

*

Tudo começou por volta das 23h. Estava chovendo e ouvi um barulho enorme. Eu pensei que era um raio, mas não parou. Foi uma explosão. Quando parou, as bombas explodiram. Então os tiros começaram novamente.

Ocorreu-me o que aconteceu no ano passado, quando um grupo tomou reféns e invadiu a agência federal da Caixa Econômica, no centro da cidade. As explosões vieram da mesma direção.

Mas então o barulho começou a vir de todos os lados.

Os dados começaram a chegar a vários grupos do WhatsApp ao mesmo tempo. Por alguns minutos, meu marido conversou com amigos de um bairro distante, e eles também ouviram os mesmos sons de tiros e explosões. “Como assim”, pensei?

Todo mundo diz alguma coisa. Informações diferentes a cada hora. E isso causa ainda mais ansiedade. Então você se perde, não consegue ver e entender o que está acontecendo.

Tudo parecia muito perto. Foi então que percebemos que os bandidos estavam de fato em várias partes, correndo pela cidade. O sentimento estava próximo, como se estivessem aqui ao lado. E eles eram. Eles passaram por lugares como a Avenue a dois quarteirões daqui. Eles deixaram alguns carros perto da minha casa.

Como minha casa voltou tão mal [no terreno] Eu não tinha a sensação de que algo como, por exemplo, atirar pela janela poderia acontecer. Mas quem mora no centro da cidade, todo mundo dorme no chão, no corredor.

Eu estava nervoso com minha mãe, que estava ainda mais nervosa e mais velha. Meu filho estava com ela, mas ele estava bem. Liguei para ela e pedi para ela dormir no corredor. Eu não durmo. Pelo menos deite-se, porque o tiroteio era das 11h às 15h. Eu estava nervoso por ela.

Então, de manhã, foi novamente. Então eles mataram o suspeito. A polícia foi instruída a não sair de casa o dia inteiro. Havia pessoas que não podiam ir onde estavam. O pai da minha filha ficou preso no trabalho e não posso ir para casa até hoje.

Eu tive que ir rapidamente comprar algumas coisas para minha mãe, não havia como. Mas a cidade inteira estava fechada, vazia. O que o coronavírus não fez, os bandidos.

O que afeta essa questão social. A violência está se espalhando pelo país e atingindo outros locais, cada vez mais nas cidades. Não é novo Conversei com uma amiga de Campos do Jordão hoje e ela me lembrou disso. Isso aconteceu há alguns anos atrás. Portanto, é um processo em expansão.

Isso me trouxe de volta à sensação que tive durante o ataque ao PCC de 2006, em São Paulo, e nos dias seguintes. Algo como “fique lá e jogaremos terror na cidade. Não saia”.

Hoje, quinta-feira, somos todos empurrados para o canto. É um sentimento que as pessoas que vivem em lugares de guerra devem ter.

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