Empresas brasileiras ouvem o canto da sereia das bolsas americanas

Por Tatiana Bautzer e Carolina Mandl

SÃO PAULO (Reuters) – A farmacêutica Blau Farmaceutica SA listou suas ações na Bolsa de Valores B3, no Brasil, em abril, considerando a abertura de seu primeiro banco de plasma nos Estados Unidos e a transferência de sua sede e ações para os Estados Unidos.

A empresa, que atualmente opera no estado de São Paulo, Brasil, até agora tem foco em negócios na América Latina e quer abrir 10 embalagens de plasma nos Estados Unidos, além de sua nova base na Flórida. Assim que a expansão for concluída, Blau pode considerar a mudança de sua sede para os Estados Unidos.

Em entrevista à Reuters, o diretor financeiro da Blau, Douglas Rodriguez, disse que, ao contrário do Brasil, os investidores internacionais estão sendo usados ​​para modelos de negócios de empresas farmacêuticas envolvidas em medicamentos à base de plasma.

A Blau é uma das muitas empresas brasileiras que querem se mudar para os Estados Unidos e se listar na bolsa norte-americana, o que é impulsionado por um acesso mais amplo aos investidores, impostos corporativos mais baixos, regras mais flexíveis para acionistas controladores e melhores mercados de capitais.

Essa mudança mostra que o sucesso das startups de tecnologia com listagens nos Estados Unidos, incluindo o credor digital Nupank, despertou o interesse das empresas brasileiras em mudar seus locais legais, não apenas para os Estados Unidos, mas também para outros locais, de varejo a cosméticos. Como a Grã-Bretanha, Irlanda e Holanda.

O Banco Inter SA, apoiado pelo SoftBank, a operadora de Internet Locaweb, a varejista Lojas Americanas e a fabricante de cosméticos Natura & Co estão entre as empresas que anunciaram essas ações.

A brasileira JBS SA, maior processadora de carnes do mundo, anunciou que continuará sua lista de operações internacionais nos EUA no próximo ano.

Na terça-feira, a fabricante de aeronaves brasileira Embraer SA anunciou um acordo com a empresa de propósito específico Zanite para listar sua subsidiária de táxi elétrico voador na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). As ações da Embraer subiram com a notícia.

A saída de empresas brasileiras reflete o risco crescente para a B3, que começa a buscar formas de evitá-lo, assim como os gestores financeiros locais podem controlar seu universo de investimentos.

Advogados, banqueiros e executivos, no entanto, esperam que essa tendência se mantenha por enquanto, embora ressaltem que isso é principalmente para empresas com negócios significativos no exterior. Eles não esperam congestionamento corporativo ao sair.

“Algumas empresas brasileiras querem acesso a uma base de investidores grande e diversificada”, disse Alessandro Gemma, chefe das operações do Morgan Stanley no Brasil.

Em geral, desejam obter dinheiro por um valor mais alto no exterior.

As ações da Natura & Co., que anunciou sua intenção de mudar sua listagem principal de B3 para a NYSE, estão sendo negociadas a preços-lucro múltiplos de 29 vezes em comparação com os 41,5 da rival L’Oreal SA.

O Banco Inter, listado pela primeira vez no B3 em 2018, negocia 12 vezes seu valor contábil, mais da metade de seu rival Nubank, que estreou na NYSE este mês.

As empresas listadas fora do Brasil estão em busca de mercados com empresas altamente comparáveis, e Jean-Marcel Arakawa, advogado corporativo de Mattos Filho em São Paulo, exemplificou os administradores imobiliários Patria Investments Ltd e Vinci Partners Investments Ltd.

Como os capitalistas de risco desejam completar rodadas financeiras usando empresas mantidas no exterior, as empresas de tecnologia muitas vezes decidem reiniciar. Outra razão é impressionar os fundadores ou controlar os acionistas, mantendo-os no comando, permitindo que detenham ações com direitos de voto especiais e mais elevados.

Por exemplo, os sócios fundadores da 3G Capital, incluindo Jorge Palo Lemon, serão jogadores poderosos na Americanas SA após a fusão com a Lojas Americanas e o varejista de listagem dos Estados Unidos. A família Menin, acionista controladora do Banco Inter, terá posição semelhante à do Banco Digital.

Novas regras

Até recentemente, as empresas brasileiras não podiam listar suas ações listadas no exterior localmente por meio de Brazilian Depository Receipts (BDRs). Alguns decidiram abandonar a transação local, fazendo com que o B3 perdesse ofertas públicas iniciais e taxas de negociação para as bolsas de valores NYSE e Nasdaq.

A CVM, órgão fiscalizador dos valores mobiliários do Brasil, mudou essa regra de listagem, levando empresas como a Nubank e a corretora de investimentos XP Inc a listar seus BDRs no B3. Esses BDRs tiveram um grande volume de negócios quando foram introduzidos.

“Tentamos acomodar as demandas das empresas quando elas mudam”, disse Flavia Mouta Fernandez, Diretora Regulatória da B3.

O Brasil tem buscado amenizar as restrições que restringem os direitos dos acionistas ao direito de voto superior, embora Fabiano Milan, advogado corporativo da Stoche Forbes em São Paulo, tenha dito que as regras locais não são as mesmas de outros países.

“As empresas já listadas não poderão exercer o super voto e os direitos de voto extraordinários são temporários”, disse Milan.

Luis Semegini Sosa, sócio-fundador e advogado da Mello e Torres, da Sauza em São Paulo, diz que a frustração com a falta de previsão do ordenamento jurídico brasileiro é outro motivo pelo qual as grandes empresas optam pelo reassentamento.

Alguns banqueiros, no entanto, estão céticos de que a atual migração corporativa se tornará uma tendência de longo prazo.

Roderick Greenlees, chefe global do banco de investimento Itaú BBA, disse:

(Relatório de Tatiana Potser e Carolina Mandel; Edição de Paul Simavo)

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