Pesquisa e financiamento da União possibilitaram testar a vacina no Brasil – 06.12.2020

Dois mil voluntários nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro começarão a recrutar até o final deste mês para os testes de uma vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford contra a covid-19. A fase de trabalho no Brasil, o primeiro país fora do Reino Unido a iniciar o teste de massa pela instituição, é coordenada pelo Centro de Referência Unifesp para Doenças Imunobiológicas Especiais (CRIE) (Universidade Federal de São Paulo).

O relatório Eco conversou com professores e pesquisadores brasileiros envolvidos na parceria com a instituição britânica para entender o que é crucial nas negociações. O objetivo é testar cerca de 10.000 pessoas em todo o mundo.

No caso do Brasil, uma boa reputação internacional em termos de imunização, especialmente o SUS (Sistema Único de Saúde), e o momento epidemiológico do coronavírus no país – atualmente o epicentro global da pandemia – foram fatores fundamentais de escolha.

Quem explica, a coordenadora do centro onde será realizada a pesquisa, epidemiologista, pesquisadora e professora da Escola Paulista de Medicina (associada à Unifesp) é Lily Yin Weckx. Ela disse que foi contatada diretamente pela professora Sue Ann Costa Clemens, que liderou a articulação para a chegada dos testes ao Brasil, como chefe do Instituto de Saúde Global da Universidade de Siena, também pesquisadora do Crie e consultora sênior da Fundação Bill & Melinda Gates para desenvolvimento de vacinas.

Lily Yin Weckx, epidemiologista, pesquisadora e professora da Escola Paulista de Medicina

Imagem: Detecção

“A terceira fase da produção de vacinas, além dos ensaios clínicos, exige um número significativamente maior de participantes. A situação epidemiológica no Brasil, o crescente número de casos e a curva ascendente – ou seja, com circulação de vírus muito bem estabelecida – tornam este país muito adequado para testes. “, diz o pesquisador. “Além disso, o Brasil é reconhecido em todo o mundo por sua excelência no campo da vacinação, seja por meio de seu programa nacional de imunização ou por meio de seus centros de pesquisa”, acrescentou.

A pesquisadora não precisava disso, mas garantiu que o número de voluntários que demonstraram interesse em participar, mesmo antes do recrutamento, “excederia em muito” 2.000 vagas.

Eles participarão de testes voluntários entre 18 e 55 anos de idade, que ainda não estão infectados com o novo coronavírus, principalmente profissionais mais expostos a pacientes com kovid – como médicos, enfermeiros, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de radiologia, motoristas de ambulâncias. – que serão submetidos a avaliação clínica mais cedo.

Vacina contra voluntários e meningococos

Como outros testes de desenvolvimento de vacinas, parte dos voluntários receberá uma vacina testada e a outra parte um segundo composto – de modo que os dois grupos serão seguidos por especialistas envolvidos na pesquisa por quase um ano. No caso de testes realizados pelo Crie, qualquer pessoa que não seja vacinada contra o kovid não receberá um placebo, mas outra vacina: ACWY ou meningococo. “Esta é uma grande vantagem para o participante, porque o ACWY não está disponível rotineiramente”, definiu o pesquisador.

O contrato com a Universidade de Oxford foi assinado pela FapUnifesp (Fundação de Apoio da Universidade Federal de São Paulo) que, na Unifesp, procurava as partes interessadas para participar do projeto. Embora a instituição britânica também tenha contribuído financeiramente, a maior parte do financiamento para a fase de análise de eficácia da vacina no Brasil foi financiada pela Fundação Lemann, bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann. No entanto, nenhum número foi revelado.

Uma entidade privada sem fins lucrativos, a FapUnifesp tem 15 anos de estabelecimento e o órgão assinou contratos com Oxford para desenvolver pesquisas, como a atual. Por meio do CNPJ, é responsável pela gestão dos recursos obtidos para garantir a infraestrutura, o apoio logístico e administrativo aos pesquisadores e demais profissionais envolvidos no desenvolvimento de projetos acadêmicos de ensino, pesquisa e expansão universitária.

A fundação afiliada à Unifesp administra

Jair Ribeiro Chagas, Presidente da FapUnifesp - Zé Amaral / Discovery

Jair Ribeiro Chagas, Presidente da FapUnifesp

Imagem: Zé Amaral / Discovery

O presidente da fundação, Jair Ribeiro Chagas, professor aposentado do departamento de biofísica da universidade, explica que a proposta de ação de órgãos como a FapUnifesp é “aumentar a flexibilidade e a eficiência no processo de obtenção de projetos e recursos para as universidades”. estão sujeitos à burocracia estatal. No entanto, ele adverte, é obrigatório respeitar as regras internas de respeito e ética necessárias para servir uma instituição pública.

Chagas também destacou que o controle e avaliação das fundações é realizado pelo Ministério Público do Estado; além disso, contas e balanços anuais são obrigatórios, sob a supervisão de auditoria externa e a aprovação de um advogado designado.

No caso da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, o dinheiro transferido e também a doação enviada à FapUnifesp serão usados ​​para reformar e adaptar a área de Crie – localizada em Villa Clementino (zona sul de São Paulo) – para testes, além de contratar um grupo especializado de especialistas para ao longo dos meses trabalham na eficácia da vacina, mas também na responsabilidade.

“Há um grupo dentro da Escola Paulista de Medicina, liderado pela professora Lily, que tradicionalmente desenvolve vários estudos para a indústria farmacêutica ao introduzir novos medicamentos ou vacinas – é claro, ter que seguir as regras e protocolos para isso”, pensou.

“Você quer tomar Novalgina ou está com dor?”

O presidente da fundação rejeita, em certa medida, as críticas de que, em projetos de pesquisa financiados por agentes externos e não por governos, a estrutura pública da universidade serve como um “cobaia” para o setor privado – seja representado por uma universidade privada estrangeira ou fabricante de medicamentos.

“No caso de uma vacina como essa, contra a Covid, onde haveria recursos – no valor de bilhões de dólares – para implementar um projeto envolvendo milhares em todo o mundo, que deve ter alta segurança e garantia máxima de que não causará danos e produção em muito pouco tempo.” tempo, exceto por meio dessas parcerias? Isso não existe “, enfatizou.

Pesquisa de vacina Covid-19 na Tailândia - Athit Perawongmetha

Pesquisa de vacina Covid-19 na Tailândia

Imagem: Athit Perawongmetha

“As empresas farmacêuticas podem até conseguir algo no futuro [com o lançamento de remédios e vacinas], mas eles também terminam. É uma escolha: você quer tomar Novalgina ou sofrer a dor? O que não pode ser ignorado são as regras sérias para a aprovação de medicamentos, com negociações bem feitas para que o preço não seja abusivo, e treinando pessoas para que possam definir políticas públicas, saber negociar com entidades internacionais e levar essa tecnologia a ser implementada em nosso país “. ele concluiu.

Chagas estima que, embora os voluntários estejam acompanhando há cerca de um ano, os testes no Brasil já apresentam resultados convincentes para a liberação da vacina em no máximo quatro meses.

“Nem um centavo de um projeto para outro”

Diretor Jurídico da FapUnifesp, Luiz Jurandir Simões de Araújo - Zé Amaral / Editora

Diretor Jurídico da FapUnifespa, Luiz Jurandir Simões de Araújo

Imagem: Zé Amaral / Discovery

Atualmente, pelo menos duas leis em vigor favorecem as empresas que ingressam na fundação incentivando a pesquisa, que é incentivar a pesquisa e receber benefícios financeiros: 11.196 / 05, denominada “Lei do Bem”, que permitia isenção de impostos para pessoas jurídicas realizarem pesquisas. e o desenvolvimento da inovação tecnológica e 13.243 / 16, que trata de incentivos ao desenvolvimento científico, pesquisa, treinamento e inovação científica e tecnológica.

“Além disso, existe uma obrigação de que uma fundação não use um único centavo de um projeto para pagar por outro”, observou o diretor administrativo da FapUnifesp, Luiz Jurandir Simões de Araújo, professor de atuários no campus da Universidade de Osasco.

Benefícios para o Brasil?

No entanto, a escolha do Brasil de participar de vacinas britânicas em humanos não garante prioridade para o país receber a vacina, uma vez que sua eficácia tenha sido comprovada. No entanto, os professores acreditam que a pesquisa e os pacientes brasileiros podem se beneficiar.

“Estamos comprometidos em realizar uma avaliação técnica da vacina, mas é claro que, conhecendo pesquisadores brasileiros, médicos, a Fundação Lemann, não tenho dúvida de que seremos atendidos entre os primeiros lotes de vacinas – ainda mais que a Universidade de Oxford demonstrou grande preocupação ética por essas questões. “, estimou o presidente da fundação.

O coordenador do centro onde os testes serão realizados, por sua vez, ressalta que, mesmo sem prioridade imediata explícita, o desenvolvimento de vacinas com estágio de análise no Brasil pode beneficiar o país não apenas na compra de produtos, mas na transmissão. tecnologia.

“Essas são negociações separadas e devem acontecer. Quando uma nova vacina é introduzida, as negociações também começam com a transferência de tecnologia entre os envolvidos. Isso foi observado, por exemplo, com o programa de vacinação contra gripe -Há uma transferência de tecnologia desde o início e hoje nossas vacinas contra gripe são produzidas aqui. Para esta nova vacina, é muito possível que isso aconteça – acrescentou Lily.

Além disso, observou ele, os pesquisadores brasileiros estão participando de uma equipe internacional que trabalhará na redação do protocolo e na condução do estudo – uma área tão especializada quanto rigorosa, mencionou. “É uma enorme experiência de aprendizado; alguém que se forma nesse grupo vai para a Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz] ou [Instituto] O butano, por exemplo, combina com outros conhecimentos “.

Crise política, mas ‘pesquisa unificada’

Ela é médica na Unifespo desde 1968. Durante esse período, ela testemunhou mais de duas décadas de ditadura militar, um processo de redecratização – com governos eleitos democraticamente e diferentes naturezas ideológicas. Também é vista a pandemia de 2020, que no Brasil também carrega uma forte crise política como ingrediente adicional.

“Não importa o que aconteça, sinto que a pesquisa científica está unida – como se todas as suas instâncias estivessem realmente enraizadas em algo em comum, colaborando, emocionadas por tudo estar indo bem. A situação atual – e, com a vacina, o entusiasmo é geral”. o pesquisador conclui.

O Projeto de Vacinas de Oxford é atualmente uma das várias centenas em desenvolvimento em todo o mundo. Nesta quinta-feira (11), o governador de São Paulo João Doria (PSDB) descreveu em detalhes outra iniciativa: um acordo entre o Instituto Butão e o laboratório chinês Sinovac Biotech sobre a produção da vacina covid-19, que prevê testes em nove mil voluntários brasileiros.

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