Por que os dias estavam tão ventosos?

Vento e às vezes com rajadas marcam este final de outubro e é típico desta época do ano no Rio Grande do Sulu | METSUL

Você notou que no final de outubro os dias estavam mais ventosos em Porto Alegre e em outras cidades do Rio Grande do Sulu? Não é um vento tempestuoso, acontece com o sol, e às vezes acontece com rajadas fortes também. Em alguns lugares, o vento é sentido pela manhã, mas da tarde à noite tende a soprar mais forte.

As características climáticas desta época do ano explicam os dias mais ventosos. No final do inverno as massas de ar frio continuam avançando em direção às latitudes médias do continente, mas, ao contrário da era fria em que as penetrações do ar polar são caminhos continentais, justamente pelo interior do continente, os caminhos das massas de ar são frios marítimos.

Ao mesmo tempo em que o ar frio avança pelo Atlântico Sul, o ar mais quente se deposita no continente com áreas de baixa pressão que operam tipicamente no norte da Argentina e Paraguai, centros de baixa pressão de outra natureza térmica. Portanto, o calor é mais intenso nas médias climatológicas nas cidades mais a oeste do sul do Brasil.

Na verdade, um contraste de temperatura e pressão foi estabelecido entre o Oceano Atlântico e o continente. Ar mais frio e maior pressão atmosférica sobre o mar. Ar mais quente no continente com pressão atmosférica mais baixa.

Aí vem a física para explicar o vento.

Sabe-se que as temperaturas sobem mais rápido na terra do que na água durante o dia. E à noite o oposto acontece com maior resfriamento sobre a terra do que sobre a água. Conforme a temperatura sobe com o sol durante o dia, a diferença de temperatura entre o mar e a terra aumenta. As áreas acima da terra têm temperaturas muito mais altas do que acima do oceano,

Depois disso, o ar de temperatura mais baixa (mais denso) começa a se mover para o ambiente onde o ar é mais quente (e mais leve). Esse movimento do ar, do mar para a terra, traz o vento. Portanto, sopra do quadrante oriental. É o vento que vem do mar para o continente, o que os surfistas chamam de vento de mar aberto. Conseqüentemente, o vento sopra do quadrante leste.

À noite, com tempo seco e aberto, o resfriamento é muito mais pronunciado em terra. O ar no continente fica mais denso do que no mar, então às vezes ocorre o movimento oposto e as áreas costeiras e o oceano começam a receber o vento que vem do oeste, do continente.

Um mapa de anomalias de temperatura em 850 hPa (1500 metros acima do nível do mar) mostra o ar muito quente na América do Sul Central e o ar frio sobre o oceano | METSUL

O mapa de pressão atmosférica superficial mostra o centro de baixa pressão de 1.009 hPa no norte da Argentina e alta pressão de 1.031 hPa hoje sobre o Atlântico | METSUL

Todas essas dinâmicas, que incluem climatologia, características de massa e trajetória de ar e processos físicos de extrusão de ar, explicam por que essa época do ano costuma ser mais ventosa, levando ao termo popular “Vento de Finados”.

Quando o vento leste atua no Rio Grande do Sulu, ele tende a evitar chuvas em áreas com rajadas, o que leva muitos agricultores a descreverem o vento como “comendo a chuva”. Por outro lado, nas áreas litorâneas que possuem grandes altitudes a oeste, no caso de parte das costas do sul e sudeste do Brasil, Serra do Mar, o vento leste acaba trazendo nuvens e chuva.

Porque? O vento que sopra do oceano para o continente é carregado de umidade. O ar úmido, encontrando a barreira física de morros e montanhas, acaba subindo para a atmosfera. Quanto mais na atmosfera, mais frio fica. E o ar úmido, quando sobe, acaba encontrando ar mais frio e eventualmente se condensa, criando nuvens e chuva. Este tipo de chuva é denominado orográfica ou de relevo e, em certas situações, pode gerar precipitações muito grandes.

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