Que tipo de ameaça comunista é essa sobre a qual o governo está falando tanto? – Camilo Vannuchi

Ela completou oito anos nesta foto na semana passada. Não há notícias das filmagens antes disso em que elas foram vistas, na mesma estrutura, todos os cinco presidentes da República ainda estão vivos. A foto foi tirada em frente ao Palácio da Alvorada, no Brasil, por Roberto Stuckert Filho, fotógrafo oficial do governo de Dilma Rousseff. O quinteto se reuniria novamente um ano e meio depois, em uma viagem oficial à África do Sul para o funeral de Nelson Mandela.

Esta foto é de 2012. Entre Dilma, à esquerda, e Fernando Henrique Cardoso, à direita, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Collor de Mello e José Sarney estão se confraternizando. Juntos, ou melhor, consecutivamente, os cinco governaram o Brasil por 29 anos entre 1985 e 2016. Somente entre 1993 e 1994 foi o presidente Itamar Franco, que morreu em 2011. Cada um dos cinco escreveu uma trajetória diferente do cargo. Um se tornou presidente como vice-presidente. A eleição atual, escolhida pelo Colégio Eleitoral e que já havia se formado, adoeceu antes de assumir o cargo e morreu pouco depois. Dois foram destituídos do cargo, um após dois anos no governo e o outro após cinco anos e quatro meses: um irmão, um Fiat Elba, um motorista, uma crise institucional e pedágio contribuíram para esses processos. Os outros dois governaram por oito anos, permanecendo hoje no topo da lista de ex-presidentes classificados como os melhores pelos brasileiros.

Esta fotografia tem um simbolismo histórico muito oportuno. A foto foi tirada no dia em que a Comissão Nacional da Verdade foi criada, em 16 de maio de 2012. O FHC e Lula viajaram de São Paulo para Brasí para se juntar ao chefe de estado e a outros dois veteranos, agora senadores da República, em um dia. compromisso com a democracia e a justiça de transição. Eles estavam lá para apoiar publicamente a pesquisa, análise, sistematização e registro de violações de direitos humanos praticadas durante a ditadura militar (1964-1985). Diante do imperativo categórico de guardar memórias de anos de exceções, o que era menos importante na época era se os cidadãos do Maranhão e Alagoas começaram suas carreiras políticas na Arena, em um partido militar, ou se a mineira fazia parte de uma organização guerrilheira. Todos reconheceram a importância dessa comissão como um passo necessário na transição para a democracia.

Enquanto isso, um deputado federal do Rio de Janeiro usou a plataforma para protestar contra o lançamento da comissão. Já em 2010, discutindo a aplicação da Comissão da Verdade a um debate na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, ele disse: “Eu queria torturar muitos membros desse comitê. O instrumento de tortura que quero usar é a verdade”. Ele então acusou a comissão de ser “completamente parcial” e de procurar “calúnia, mentira”. Anos antes, em 2005, ele protestou contra a criação de um grupo dedicado à busca de ossos na região guerrilheira de Araguaia, que foi destruída pelos militares em 1974, anexando um adesivo irônico à porta de seu escritório com um desenho bonito de um filhote e o texto: .

Foi esse mesmo deputado, elevado à posição mais alta do executivo federal, que disse em entrevista que não havia ditadura no Brasil, convidou quartéis para comemorar o aniversário do golpe de 1964 e, mais recentemente, recebeu o torturador Curió para uma animada conversa no Palácio do Plateau. Seus apoiadores e parentes ameaçaram repetidamente as instituições democráticas, seja por meio de empresas e soldados instruídos a fechar o STF, seja por meio do novo AI-5, um ato institucional que fechou o Congresso, estabeleceu censura e deu plenos poderes ao presidente-geral.

Bolsonaro repete principalmente a teoria de que existe um plano no Brasil para implantar o comunismo. E esse plano precisa ser removido. Certamente, uma tarefa para o Messias, para o alecrim dourado que ele ameaçou em 1987 para plantar pequenas bombas para pressionar o exército. “Certamente, o exército da época era comunista e, portanto, cabia ao rosto do capitão.

Bolsonaro vive na Guerra Fria. Ele divide o mundo em comunistas e capitalistas, traidores e patriotas, gente boa e terroristas. É um tipo de obsessão, uma ideia fixa. Hegemonia nas urnas, vitória no processo democrático não é suficiente para ele. Ele quer “atirar em um foguete”, enviar a esquerda para o “topo da praia”, convencido de que “o erro da ditadura foi tortura, não matança”. E aqueles à esquerda que tomam tubain.

Na última semana o jornal Folha de S.Paulo e Globo anunciaram a cessação da cobertura diária do rosto no Palácio da Alvorada, após o assédio de suas equipes de fãs. Com os dedos do meio levantados, os infratores repetiram a mesma ladainha. “Imprensa podre! Comunistas!” Chorou a mulher. “A mídia comunista comprou! Um bando de bastardos!”, Exclamou o homem.

A lista de comunistas composta pelas mentes criativas dos anfitriões bolcheviques está crescendo todos os dias. Na cosmogonia presidencial, ao lado Folha e Grupo Globo, youtuber Felipe Neto, médico Drauzio Varella, ONU, OMS, Papa Francisco e até Brastemp fazem parte da lista. Sim, Brastemp! Depois de anunciar que publicaria um anúncio da empresa publicado no site do Jornal da Cidade Online, distribuidor de notícias falsas, a empresa se tornou um alvo. Os apoiadores do presidente postaram no Twitter a hashtag #BrastempApoiaOComunismo, uma espécie de epidemia coletiva contra a atitude correta do dispositivo gigante. O oposto seria o quê? Uma opção consciente e ponderada para financiar mentiras? É isso que líderes de torcida defendem publicamente à luz do dia?

Depois de Brastempe, que decidiu lutar contra a rede para financiar e distribuir notícias falsas em favor do capitão – uma operação que seria lançada durante a campanha eleitoral – foi o ministro do STF, Alexandre de Moraes. Outro comunista. Quem não gostou de nada foi o ex-congressista e apresentador de televisão Roberto Jefferson. Um dos alvos da operação, Jefferson sugeriu ao Bolsonar a remoção do Todo-Poderoso e, há duas semanas, ele postou uma foto no Twitter com uma metralhadora. “Estou me preparando para uma boa luta”, escreveu ele no post. “Contra o comunismo, contra a ditadura, contra a tirania, contra traidores, contra os vendedores da Pátria. Brasil acima de tudo. Deus acima de tudo.” Também alvo da operação, a deputada Sara Winter, que também postou fotos com a arma de fogo, postou um vídeo no qual chamou Alexandre de Moraes de “ladrão” e “filho da puta” e o ameaçou. “Você nunca terá paz em sua vida novamente”, prometeu. “Vamos descobrir tudo sobre sua vida até você pedir para sair.”

Não demorou muito para Bolsonarou reagir à operação, que foi aprovada pelo Supremo Tribunal com o autoritarismo usual. “Não teremos outro dia como ontem; basta!”, Disse ele, tratando o rompimento com a Suprema Corte como inevitável e apontando que a briga entre os três ramos deve ocupar as notícias por um longo tempo. Há uma teoria (conspiratória) nos anfitriões de que os ministros da Suprema Corte estão quase todos à esquerda – afinal, a maioria foi nomeada pelos governos comunistas Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff – e ainda hoje seria controlada pelos membros do PT. O mesmo STF que Lula chamou de covarde, que aprovou sua prisão e nunca se opôs ao esforço de Dilma, seria o STF comunista hoje. Lula, de fato, cujo governo ajudou muito bancos e empresas contratadas e até falhou em regular a mídia, também é comunista. FHC, príncipe da privatização e Proer: comunista.

Em agressões, discursos, desculpas e atitudes, a guerra contra a ameaça comunista no Brasil continua em pleno andamento. Até recentemente, no universo fantástico, o objetivo de Bolsonaro era transformar o Brasil em Venezuela. Na ausência do ouro de Moscou ou do dinheiro de Fidel para embalar sonhos ditatoriais de Dilma e outros rebeldes do PT na década de 1960, agora os fundos podem vir da China, o país comunista que se tornou o maior repositório de capitalismo do mundo e criou o coronavírus. destruir a América, começando com o nosso irmão do norte. O chanceler Ernesto Araújo chamou o Sars-CoV-2 de comunivírus. Ele acrescentou: “Sob o pretexto de uma pandemia, o novo comunismo trata de construir um mundo sem pessoas, sem liberdade, sem espírito, e é administrado por uma agência central de solidariedade encarregada de supervisionar e punir”, disse ele, referindo-se à Organização Mundial. (QUEM).
A segunda hipótese é que o golpe comunista no Brasil é financiado por comunistas como Leonardo DiCaprio, Bill Clinton e Barack Obama. Ou como George Soros (Sociedade Aberta), Bill Gates (Microsoft) e Jeff Bezos (Amazon), empresários que mantêm iniciativas destinadas a defender a democracia, a justiça social e que propõem cobrar mais impostos aos muito ricos.

Resta saber a corrente de cada um deles. Alexandre de Moraes era um stalinista? Felipe Net é um trotskista? Ou um castista? DiCaprio ama tanto a selva que deve ser maoísta. Talvez um fochista. E William Bonner, que doutrina comunista ele defendeu? Posadistas, morenistas, leninistas, internacionalistas, marxistas utópicos ou libertários, eco-socialistas, quem é quem no mapa do comunismo brasileiro?

Em uma famosa reunião ministerial em abril, anunciada a pedido do também comunista Sergio Moro, o ministro-chefe da Casa Civil, General Braga Netto, propôs um grupo de trabalho do governo, com o compromisso de todos, de lançar um plano interministerial para continuar. Segundo o general, esse seria o “Plano Marshall Brasileiro”. Oito minutos depois, depois que o PowerPoint terminou, o ministro da Economia Paulo Guedes pediu para falar e foi ao general. “A primeira observação é a seguinte: não o chame de Plano Marshall, porque revela uma enorme falta de preparação”, disse ele. Braga Netto respondeu que só usava esse termo na reunião e que o nome real do plano era Pro-Brasil. Guedes insistiu: “Pró-Brasil é um nome espetacular. O plano de desastre de Marshall. Revela despreparo”. Didaticamente, ele explicou que os Estados Unidos poderiam elaborar um Plano Marshall para ajudar o Brasil, mas o Brasil não poderia criar um Plano Marshall para ajudar a si próprio. E ele disse: “A China (palavrões) precisa financiar o Plano Marshall para ajudar todos os afetados”.

O Plano Marshall é um programa criado pelos Estados Unidos para ajudar a reconstruir países europeus nos anos após a Segunda Guerra Mundial. Sua catástrofe foi a conquista simultânea de hegemonia sobre países como Alemanha, França e Itália, amplamente apoiados pelo estado americano, e impedindo a União Soviética comunista, também vitoriosa na Segunda Guerra Mundial, de avançar pela Europa, expandindo a esfera de influência da doutrina socialista. Em 2020, o Plano Marshall ajudaria a salvar o Brasil e, ao longo do caminho, ajudaria a dissipar esse obstinado progresso comunista que, segundo uma rede de notícias falsas investigadas pelo STF, espreita por toda parte.

No entanto, não ficaria surpreso se a reunião ministerial, depois da peça de Guedes, resultasse na elaboração e implementação de outro plano, o Plano Cohen. Quem se lembra? Muito antes de surgirem as notícias falsas, o Plano Cohen era uma farsa criada em 1937 por uma equipe do presidente Getúlio Vargas para convencer a população de que seria mais sensato cancelar as eleições e prolongar a permanência de Vargas no poder, agora como ditador, para evitar uma suposta ameaça comunista. É um dossiê, falsificado do começo ao fim, segundo o qual havia um plano de invadir o Brasil que seria lançado em breve. Sua autoria é atribuída ao capitão do Exército Olímpio Mourão Filho, então líder da Ação Integralista do Brasil e chefe de seu serviço secreto, que lançaria um golpe em 1964 contra João Goulart, outro comunista infame que foi à China para ver e defender idéias comunistas. como reforma agrária. O fato é que, em 1937, quando Vargas já estava se preparando para deixar a presidência, eleições diretas programadas para o próximo ano, o plano de Cohen justificava o golpe que inaugurou a ditadura Estado Novo: Vargas, entre 1937 e 1945.

A obsessão de Bolsonar e seus apoiadores em confirmar persistentemente a existência de uma ameaça comunista, por mais louca e anacrônica que possa ser essa hipótese – especialmente agora que não há mais um governo comunista que seja minimamente constituído e disposto a investir em guerra ideológica em todo o mundo – parece absurdo. como o plano de Cohen, que agora está sendo alimentado pelo bolsonarista de uma rede de produção e distribuição de notícias falsas que foi finalmente alvo da Suprema Corte.

Atenção, patriotas! Uma invasão comunista é inevitável. E os ministros do STF estão entre seus líderes. Seja cuidadoso.

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