Tony Montana é a personificação do “sonho americano”. Parte da massa de cubanos que buscavam refúgio da ditadura de Fidel Castro no início dos anos 80, sua fuga para o mar terminou em Miami. Mesmo depois que seu visto foi negado, ele trabalhou duro para obter o direito de se tornar um cidadão dos EUA.
Desde então, sua trajetória tem sido meteórica. Desde o início humilde de lavar louça em uma tigela na região de Little Havana, em Miami, Tony teve uma visão de negócios e começou a articular diferentes empresas com parceiros em outros países. Logo, um imigrante percebido pela sociedade ianque como um “ladrão” possuía uma mansão nababeana e milhões de dólares em dinheiro.
Da pobreza em Cuba ao sucesso nos EUA, Tony pode ser considerado um exemplo para muitos. Um bom exemplo foi visto no noticiário brasileiro, em que estátuas em miniatura de colecionadores foram vistas na casa onde policial militar aposentado e ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz foram presos em uma operação policial.
Tony Montana é, obviamente, ficção. O protagonista do clássico moderno “Scarface”, dirigido por Brian De Palma em 1983, é uma personificação da tragédia nas entrelinhas do mesmo “sonho americano”. É também um dos papéis icônicos da carreira de Al Pacino, que viu seu trabalho se tornar parte do tecido da cultura pop nas décadas desde o lançamento do filme.
Pacino insistiu em interpretar o personagem depois que Robert De Niro desistiu, a escolha original de Brian De Palma. Nos anos 70, o ator se estabeleceu como um dos maiores talentos da geração de estrelas viscerais de Hollywood, ganhando pérolas como os dois primeiros “Poderoso Chefão”, “Serpico” e “Dia do Cão”.
Para interpretar Tony Montana, ele estudou técnicas de luta de rua (usando facas e punhos), além de se inspirar na “Sofia Choice” de Meryl Streep como imigrante marcada por uma tragédia que começa sua vida nos Estados Unidos novamente.
Curiosamente, sua carreira desacelerou na década de 1980 após “Scarface” e o fracasso de “Revolution” em 1985, um refúgio no teatro. Pacino recuperaria o fôlego em 1989 com “Victims of Passion”, obtendo sucesso com o público e os críticos, coroando seu retorno com o Oscar pelo drama de 1992 “Parfem de Mulher”.
Ele esteve em dois grandes filmes no ano passado: o drama de Martin Scorsese, e Martin, de Quentin Tarantino, em ritmo acelerado, Era uma vez em Hollywood.
Mas Tony Montana, entre outros personagens memoráveis, tornou-se um ícone da cultura pop. Transcendendo o filme De Palma (um remake do clássico de mesmo nome feito por Howard Hawks em 1932), o imigrante cubano foi o protagonista de um videogame em 2006, sua imagem icônica no pôster do filme adorna paredes ao redor do mundo, e ele é apresentado como uma boneca de colecionador em vários formatos.
Miniaturas como essa, terminadas com um cartaz em que “AI-5” está em negrito, foram vistas em uma propriedade do advogado Frederick Wassef, onde a polícia prendeu Fabrício Queiroz. É outro toque bizarro com os acontecimentos às vezes irreais da crônica político-social brasileira contemporânea.
Afinal, a riqueza de Tony Montana, um refugiado político e imigrante cubano, foi acumulada por assassinatos e tráfico de drogas. Seu final foi violento, ele enfrentou rivais colombianos com uma metralhadora M16 e um lançador de granadas, disparando a frase imortal “Diga olá para o meu amiguinho”. A ironia do roteirista do filme “Brasil 2020” parece não ter limites.