Eu não saí de casa por 3 meses. Não sinto falta da rua, do parque, dos bares da vizinhança, do restaurante de sobremesas ou do cadarço. De vez em quando também sonho em viajar. Nada mais.
O mercado da aviação sofrerá com a sequência. Especialistas apontam isso empresas perderão até US $ 252 bilhões – perda de receita de 44% em relação a 2019. O comprador não existe mais. Por enquanto, não pense em férias. E em um futuro próximo ele também não viajará para o trabalho. O mercado de viagens corporativas está representado 70% dos vôos domésticos no Brasil.
A cidade significava pouco. Eventos, feiras, congressos reuniram muita gente empolgada com presentes, comidas gordurosas e “pequenos oradores”. Os visionários modernos, com animação poderosa, com a ajuda de diagramas simples, venderam um futuro proporcional às nossas ambições. “Depende de você”, gritaram, e a multidão aplaudiu. O Covid-19 os deixou sem palavras nas mídias sociais, nos livros e no palco. Os slides não explicam mais nada. Não sei você, mas em uma época de pandemia, sinto falta dos palestrantes e do mundo que se encaixam nas suas explicações.
Daniel Drezner, no livro “Idéias do setor“, analisa o mercado de pensamento nos Estados Unidos. Para o autor,” oradores “(originalmente em inglês, líderes de ideias) são bem-sucedidos no mundo corporativo porque explicam o inexplicável com fórmulas simples e fáceis de aplicar. Com histórias inspiradoras ou histórias de sucesso, elas incentivam as massas agem como se as revoluções dependessem do tempo que acordamos (o “clube das 5 da manhã”), da união do corpo e da mente (meditação) ou da descoberta da paixão de alguém.
Os professores não veem contradições irreparáveis no sistema. Suas idéias são como sorvete em um dia ensolarado. Eles descem rapidamente, se refrescam por alguns segundos, dão esperança de que os problemas sejam resolvidos em um segundo – mesmo que o sol ainda esteja lá, queimando, queimando o ponto fraco dos infelizes.
Confrontados com a pandemia de Covid-19, os empresários se viram devido ao doce bico dos palestrantes no covil dos pedidos de atendimento. Muitas pessoas têm gargantas frescas e cérebros queimados. Depois de Robert Justus, Júli Durski e se preocupar com a morte do CNPJ, está na moda acreditar que o futuro será o passado. Eles argumentam que, com o levantamento das restrições comerciais, os consumidores comprarão novamente. E, como sempre, as previsões são comprovadas por casos ou artigos de jornal.
O caso Hermès de Guangzhou, China, não pode ser desperdiçado. Lá, os ricos invadiram as lojas e gastaram mais de US $ 14 milhões em sacolas, lenços e pingentes de luxo em um dia. Foi um recorde. Na França, a classe média recostou-se atrás da porta de ZaraOs curiosos queriam ver o que o varejo poderia oferecer depois de meses parados.
Há algumas semanas, o Boston Consulting Group publicou um estudo que mostrou que 38% dos brasileiros, sem restrições, retornam rapidamente a lojas irrelevantes. Não é mais rápido do que disse. Os shoppings estão comemorando um retorno. As cenas nos lançam a um abismo niilista e põem em dúvida se somos o centro de uma pandemia mundial, dizem os especialistas. Já era esperado.
Os professores, novamente, usam expressões em inglês para explicar o óbvio. Isto é compra de vingança, eles dizem. Ao suspender a proibição legal, nós, como crianças loucas, colocamos nossos desejos acima de todas as recomendações e saímos às ruas.
A vida é mais complicada. Mais de 44.000 pessoas já morreram no Brasil, Nova York foi fechada, as Olimpíadas foram adiadas, as mães enlouqueceram com os filhos em casa, os casamentos terminaram juntos. Não havia tempo para tentar uma nova lua de mel. Mickey perdeu o emprego em Orlando e deve estar neste horário de entrega em Rappi. E, no entanto, tudo será igual novamente? Será?
As pandemias estão reestruturando completamente a sociedade pela qual estão passando. Goste ou não. Eles materializam o perigo dos relacionamentos, revelam contradições, provocam acordos e contratos seculares, exigem decisões e mudanças. Quem não muda, morre ou sofre de vestígios de doenças. O grande fluxo de pessoas nas lojas não tem nada a ver com vingança. Finalmente entraremos na maior crise econômica dos últimos 100 anos, comprando sem saber se podemos pagar. Afinal, quando nos vingamos?
O retorno às lojas deve ser entendido como verificação de estabilidadeOu seja, diante de tanta imprevisibilidade, suspensão da rotina e incerteza, precisamos de âncoras que nos façam acreditar que o mundo ainda existe como o conhecíamos. Isso explica o sonho nos rolos de papel higiênico e, agora, a continuação do consumo.
Quem não entendeu a conexão entre o papel higiênico e a pandemia ou o desejo popular por uma peça de roupa, não vê o mundo pelos olhos dos outros. Em ambos os pontos, é uma busca manter um sistema de crenças e valores, de que as coisas ainda estão no lugar e de que estamos prontos para qualquer terremoto, independentemente da magnitude. Sem experiência anterior em pandemias, um assunto básico de cuidados de higiene enquanto as estradas vasculham os pulmões no mar agitado. Era como se estivéssemos dizendo para nós mesmos: apesar do arrependimento, ainda somos humanos.
Paulo Roberto da Silva (69) e sua esposa Soraia Abreu Alvez (60) não demoraram muito. No primeiro dia de liberdade, eles foram ao Barra Shopping, no Rio, para ver as notícias. Comemorado retorno de selfie, Ele foi “realizado após tanta quarentena”. Ela se lembra com carinho de “muitos bons tempos que moravam lá”.
É verdade que classe, idade, consumo, mídia (acesso principalmente à imprensa) são os pontos fundamentais para definir as âncoras nas quais nos apegamos para continuar vivendo. Foi o que as pesquisas disseram e o que vemos agora. Os mais pobres retornam mais às lojas. O comércio de prêmios e luxos ainda é pequeno. As pessoas mais ricas se viam de maneira diferente.
NO uma coluna recente na Folha de São Paulo, Nizan Guanaes, um empresário e guru de elite, proferiu um veredicto e se autodenominou. Ele se aproximou para matar o Covid-19. Facto. Foi então que ele descobriu que tinha tempo livre e cuidava das finanças. Exagero. Apesar disso, houve também uma epifania.
Ele decidiu montar uma árvore de Natal seis meses antes da cerimônia. Ele acredita que o símbolo tem o poder de “levar o coração das notícias diárias, da crise, da crise, da crise. E todo mundo se lembrará de que, apesar da crise, (…) será o Natal”. Sua verificação de estabilidade. Diante de uma vida sem previsibilidade, com um calendário suspenso e sem rituais, os mais ricos preferem acreditar no retorno do Papai Noel. Deus amou a TV Globo para não se juntar à onda e continuar sua campanha até o final do ano.
Aqui, se você não acredita no Papai Noel, não tem uma árvore de Natal em casa e não quer voltar às lojas locais, sugiro que você procure outra verificação de estabilidade ao retomar. Portanto, tenho apenas um requisito: não terminar as palestras. Eles nos lembram que tudo continua como sempre.
Oh, como eu sinto sua falta!