Conversa com o presidente Jairo Bolsonar até o amanhecer do domingo; nos fins de semana ele visita o Palácio da Alvorada; e ele geralmente recebe o senador Flávi Bolsonaro (republicanos-RJ) em sua casa para conversas que atacam as noites em Brasília.
A família do presidente, apelidada de “anjo”, o criminalista Frederick Wassef tem pelo menos nove procurações para defender em nome do clã Bolsonaro. Três são de Bolsonaro, três de Flávi e três outros assinados pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Seu relacionamento com Bolsonar, no entanto, vai além do âmbito jurídico. O amigo de Wassef, o presidente por seis anos, deixa um rastro de sua influência até na estrutura do governo, quando ele apresentou o secretário executivo do Ministério das Comunicações, Fábi Wajngarten, ao então vice-presidente Jair Bolsonar.
Wassef se orgulha de ter sido o primeiro a incentivar a candidatura de Bolsonar à presidência em sua versão. O criminalista, que tomou a iniciativa em 2014 para se aproximar de Bolsonaro, declara seu amor pelo presidente – um homem puro, até ingênuo.
Aceito em tratamento contra o câncer, o advogado assistiu a um vídeo de Bolsonaro em favor do controle da natalidade e decidiu ligar para o escritório do advogado. O secretário insistiu que ele fosse atendido. Os dois concordaram alguns meses depois.
Defensora de armas e admiradora do estilo de vida norte-americano, Wassef – na época casada com a empresária Cristina Boner – começou a sair com o casal Bolsonaro, fortalecendo os laços. De uma das empresas de Boner, Bolsonaro comprou um Land Rover Freelander por US $ 50.000, segundo a revista Veja.
O advogado, por exemplo, foi apontado responsável pela opção de Bolsonar para o Hospital Albert Eistein quando o então candidato foi esfaqueado em atividades de campanha em Juiz de Fora (MG), recusando uma oferta a ser transferida para o Hospital Sírio-Libanês.
Ele também foi quem ditou a estratégia legal de Flávio, vencendo uma luta corpo a corpo com o então presidente e advogado do PSL, Gustavo Bebiann, que morreu em março de 2020.
Com forte ferocidade e devoção apaixonada ao presidente e ao filho, Wassef já havia deixado uma mensagem aguda repreendendo a iniciativa do advogado de Flávio e até cercou o famoso colunista na rua.
Ele ficou recentemente perturbado ao saber que Flávio jantou com outro advogado, de quem ele ouviria sugestões para uma nova abordagem jurídica. Em defesa de Flávio, ele decidiu se opor ao sistema Fluminense, acusando o Ministério Público de perseguição.
Sob sua liderança, Flávio não testemunhou, apostando no sucesso da defesa em Brasília. Wassef critica amargamente a política no Rio, que é a casa das eleições do presidente.
Apesar dessa personalidade marcante, Wassef muitas vezes se apresenta como porta-voz do presidente. Por exemplo, para desafiar os ataques do ex-ministro Sergio Moro.
Era 27 de outubro, domingo, quando Folha revelou um som em que Fabrício Queiroz afirmou que o ministério público teria um “cometa que enterraria pessoas”.
A pedido do presidente, que estava nos Emirados Árabes Unidos, Wassef deixou sua casa no interior de São Paulo e dirigiu (Cherokee à direita da loja) para São Paulo para dar uma entrevista ao Fantástico, na TV Globo.
Naquela noite, ele reiterou que não havia contato entre Flávi e Queiroz. “Meu cliente não conversa com Fabrício Queiroz há mais de um ano. Não há chance. Nem indireto, nem direto, nem intermediário. Eles não têm contato e comunicação mútuos”, enfatizou.
Quando a missão terminou, Wassef ligou para Bolsonaro. Já era segunda-feira em Abu Dhabi. Aquela devoção ardente deu a Wassef o apelido de anjo, precisamente o nome da operação que culminou na prisão de Queiroz.
Se aproximando de repórteres no aeroporto de Brasília nesta quinta-feira (18), Wassef se recusou a dar uma entrevista, dizendo que falaria mais tarde e que estava atrasado para o embarque no Rio. Wassef não usava máscara facial, obrigatória no distrito federal para combater o coronavírus.
Colaboração de Marcelo Rocha